domingo, 12 de julho de 2009

NON, JE NE REGRETTE RIEN*

Existem muitas formas de errar e tantos outros modos de se desculpar; o que não encontramos com muita abundância entre nós é a coragem de sinceramente oferecê-la ou aceitá-la. E isso tortura! Essa certeza de que o remédio para corrigir um deslize nem sempre é eficaz e pode, às vezes, guardar um sabor tão amargo...

Colocamo-nos num patamar superior a tudo o mais que existe, e exigimos daqueles que conosco se relacionam a perfeição que neles espelhamos. E nesse processo vemos em seus erros, e nestes os nossos erros; e pior, vemos que erramos, e isso que para nós é inaceitável!

O fato de aceitar os erros dos outros está intimamente ligado com aceitar nossas próprias limitações e equívocos, respeitarmos a natureza da vida – não nos acomodando, mas compreendendo que há coisas que fogem ao nosso poder – e entendermos que o presente é a único momento que existe, e, portanto, o único no qual podemos viver.

Mesmo não sendo adepto de citações, há uma música da cantora Edith Piaf que traduz com uma lucidez ímpar a forma como devemos encarar as coisas, a música é Non, je ne regrette rien, que na última estrofe diz:

“Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies,
Aujourd'hui, ça commence avec toi!”[1]

Não há jeito de se viver plenamente o presente sem que se afaste do coração e da mente tudo o que for passado, gravando dentro de si apenas os seus sonhos, e deixando que eles te guiem. Suas experiências já não cumpriram o seu papel, já não moldaram a sua forma de pensar? Por que, então, viver sua vida com o sabor do passado já que o passado estará sempre dentro de você?

Assim, como não chegar à conclusão de que pedir desculpas e desculpar são duas faces de uma mesma moeda, que tem por valor livrar-nos de todas as peças do passado que não se encaixam no quebra-cabeça de nossas vidas, tornando leves os nossos passos e enobrecendo os nossos corações e sentimentos?

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*Não, nada de nada
Não, eu não lamento nada
Porque minha vida, minhas alegrias
Para hoje começam com você.

2 comentários:

uma louca disse...

Aaaaaaaah, Piaf é covardia... indescritivelmente liiiiiiiiindo!!!!!

uma louca disse...

Nossa, agora venho eu usar uma das "tantas outras formas de se desculpar"... rs! Que ausência, quanto tempo, quão relapsa eu fui, que saudade!!!!!! Acho que me distraí com o correr da vida [que só nos prega peças mesmo!] e esqueci do quanto é bom vir aqui e ler, e me identificar, e te compreender, e me sentir compreendida, e enfim... tudo isso.

E que saudade dos textos trocados MESMO!!!!!!!! Sensação tão boa. Um saudosismo gostoso, sabe? Não melancólico...

Nossa, e por falar em Piaf [absolutamente AMO essa música que você citou], me apaixonei pelo jazz!!!! Estou completa e inevitavelmente inebriada... Deus abençoe o dia em que Nina Simone, Miles Davis e John Coltrane entraram na minha vida! Haha... sério, recomendo muito. Ainda mais pra alguém com gosto refinado [refinadamente simples, o melhor!] como você, Edu.

Beijos saudosos!